terça-feira, 13 de novembro de 2007

mamãe


texto: flávia lorenzi

ah...
hoje disse a minha mãe:
mãe queria ser pequena denovo!
ela muita sábia respondeu:
mas pequena não dá mais pra ser!
mas mãe não ia ser bom? pq assim vc seria denovo tb!
ah sim minha filha eu também queria ser denovo menina,
mas não minha filha vc já cresceu!
e sempre quis crescer! sempre foi precoce!
eu até podia ter cuidado mais de vc, mas vc não quis!
agora dói pequena? e por que não ficaste debaixo das minhas asas quentes?
agora dói? eu sei como dói!

e a mãe, da menina, que era eu e agora já é ela e eu sou apenas a outra,
a mãe da menina, que é minha também, pos se a falar.
falou, falou, falou... sobre o tempo que tinha a sua frente.
sobre como a vida passa, sobre como a vida dói.

lembramos então juntas da vovó, mãe do papai, que morreu louca, louquinha, entrevada na cama de um quarto vazio, pobre vovó, tão guerreira, tão mulher, tão a frente!
a vida nela doeu!
onde será que está a vovó mamãe?
tá no céu meu bem, lá em cima, virou estrela.
onde mamãe? qual estrela dessas é a vovó?
bem aquela minha filha, que brilha quase azul!
e a bisa mamãe, não vai morrer nunca?
a bisa já tem 100 anos e sabe tudo!
ela é bruxa mamãe?
não, ela é santa minha filha!
e eu mamãe? vou crescer até quando?
vai crescer muito ainda menina.
e vc vai continuar me amando?
tenho medo mamãe, medo que a senhora não me ame além.
mas eu amo minha filha, dei minha vida a você.
mas mamãe eu queria tanto ser igual a você.
mas sou oposto, sendo o avesso do avesso do avesso do avesso,
sou exatamente como você.
eu sei minha filha, eu sei.

e o papai, mamãe?
é mesmo o melhor homem do mundo?
não há outro como ele minha filha!
que pena então mamãe, pq quem casou com ele foi você!
é minha filha foi eu!

e o papai me ama mamãe?
mais que tudo na vida menina, és a jóia rara do papai, seu bem maior, pode acreditar!

mamãe, será que o papai sente saudades da vovó?

mamãe, vou sentir muitas saudades de você!

não queres ir comigo crescer?

minha filha, olha o céu.
quantas estrelas, quantos caminhos, quantos amores.

segue teu caminho de menina minha filha!
mas não te esquecas, minhas asas sentem falta doída da piriquitinha curiosa que um dia foi só minha.

agora vai, que a vida lhe chama e eu tenho que envelhecer!

Nenhum comentário: