sexta-feira, 28 de março de 2008

poeira

Eu que não quero estar
vou para lá e ver se desapareço!
Sou poeira e devo então,
espalhar-me!
Não pertenço por que já não caibo,
sou avesso querendo ser espelho
sou torta e se tropeço desembaralho,
turvo a lente dos que olham.
Sou poeira e não retenho nada,
sou um constante inciar,
um vazio a cada aurora.

Vou então cruzar o mar,
ser nada aqui ou nada lá,
tanto faz!

palavra grande!

TRISTEZA é palavra grande,
do tamanho da dor que sente
com braços largos e abertos
não te afaga,
só te pressente.

TRISTEZA tem tamanho de gigante,
com cor ardente,
vermelho intenso,
grito alto com voz silêncio,
escuro frente,
que se desfaz em chuva quente,
e queima a dor que a alma sente!

estupefatos

queria descobrir entre atos
estupefatos,
espaços que ainda não vivi.
eu que não sei mais... nada,
realmente perdi o saber daquilo
que nunca sequer soube alguém.

eu que procuro vorazmente
me procuro e te procuro
busca cessa nunca para
e nessa louca onde desfaço
e me refaço cada pedaço
me deparo com a dor da carne
seus dentes largos
sua língua grossa
seu medo escuro, puro
e sem sapatos.
a terra fria e o corpo oco.
me assusto fácil
na queda longa que nunca para,
para nunca, para sempre,
sempre acaba.

quinta-feira, 13 de março de 2008

siga!


a menina.
se te ouço,
não escuto,
som.
mudo.
mudo?
eu mudo?
mudança?
suspiro.
com voz de desespero.
espaço,
há algum?
se olho,
não vejo,
nada.
horizonte,
horizontes.
era eu e você
eram dois.
e agora?
sou.
sou?
não,
não me escuto,
não me vejo.
sei que você ainda está aí.
só vejo você.
que apaga lentamente da minha fotografia.
e eu,
em desespero
tento desenhar-te infinitas vezes,
uma vez mais,
uma vez mais,
uma vez mais...
mas o relógio,
que conta as minhas horas,
só me diz;
nunca mais,
nunca mais,
nunca mais.
com você
eu era,
se não fosse nada,
pelo menos,
era sua.
debaixo das suas asas,
era pelo menos,
passarinho,
encolhido,
piando baixinho, baixinho.
...
mas,
quis ver o mundo,
que me disseram:
tem muitas cores e sabores e
estradas...
e uma fada soprou no meu ouvido:
siga o caminho das pedras amarelas!
então,
fui a loja de sapatos e comprei os meus,
vermelhos!
para combinar com meus dedos compridos.
fiz as malas,
uma,
duas,
(quando fizer terceira vou morrer de infarte!)
e tentei legitimamente seguir adiante,
no começo, segui.
mas na hora de fazer a curva,
me acovardei.
o caminho das pedras amarelas é quase infinito,
e não é possivel saber onde vai dar.
quis voltar para o meu ninho então,
mas nesse vai não vem,
a areia movediça me pegou,
eu caí!
sinto a lama subir pelos joelhos,
me debato desesperadamente...
não consigo sair do lugar.
será que eu devia ter seguido o
caminho das pedras amarelas?
ou nunca devia ter saído do meu ninho?
será que Deus existe,
ou o Diabo esta agora sorrindo lá de cima?
hoje eu queria o avesso,
o avesso de mim,
e cair bem fundo,
tão fundo que ninguém visse,
e todos se esquecessem...
não restasse memória do meu sorriso...
hoje eu quero que o sonho me leve,
embora,
pra longe de mim.
e acenderei velas...
para deus ou para o diabo?
melhor!
vou apagar tudo!
e ficar quieta,
no escuro,
de mim.

Adeus,
menina!

sexta-feira, 7 de março de 2008

o ainda não ser que será talvez ser


ela era triste,
por que não haviam lhe ensinado a sorrir,
aprendera somente a chorar,
tão profundamente,
as dores da alma,
que havia se tornado um ser assim,
triste e só...

vocês sabem, vocês conhecem,
há pessoas que nasceram para não ganhar.

ela era assim, quase que invisível...

mas persistia e assim aparecia

ás vezes na força de um tufão,

e parecia que seria capaz,
mas não era...
precisava aprender a sorrir...

com seu corpo esguio,
a cintura desenhada,
e seu pescoço mondigliani que lhe conferia uma
elegância triste e de mode,
que ela sustenva,
na crença de ser notada.

ela não pertencia,
a nada,
a este tempo.

era figura inacabada,
facilmente esquecida...
facilmente deixada...

pobre moça do pescoço longo,
dos dedos vermelhos e longos
com mãos enormes
que marcavam
a presença do seu olhar vago

seria realmente facilmente esquecida?

seria força,
a fraqueza?

seria capaz?
de fato,
era...

ou estaria para ser...

vir a ser
aquilo que latejava...

deixar a lágrima
salgada
virar sorriso velado!

vir a ser,

ah, sim!

ela seria...

e a tristeza era percurso
do ainda não ser
aquilo que será
quando alguém
tem tudo pra ser,

quarta-feira, 5 de março de 2008

uma outra imagem



de repente
uma imagem
a minha
refletida em um espelho
apagado
um espelho sem reflexo
e a imagem que era
minha
é agora
invisível
a imagem
refletida
no espelho
sem reflexo
daquilo que
era eu
antes
de nada ser
como nada sou
agora
que sou tantas
sem imagem
pluralidades
de muitas faces
que habitam
um espelho
invisível
onde posso
recriar
uma outra
que ainda é nada
que morre a morte
que passou
e apagou
o espelho
espelhado
de uma vida
outra
que corre
e apaga
e colore
novas praças
novos odores
de repente
uma imagem
velha e conhecida
de alguém novo
que nasce
em mim
na minha invisibilidade
no meu desaparecer
e aparecer
constante
da minha
multiplicidade
dos meus arroubos
furores
e dores
de repente
somos muitas
somos nada
que refletem
a alma
que é branca
e não se vê com
os olhos dos olhos
que se vê.

existe?

ele gosta quando eu escrevo sobre ele,
só sobre ele,
quando eu escrevo sobre mim, ele não entende,

será por isso que ele não me entende nunca?

e eu penso que... livre são as borboletas,
mas um amigo invisível me contou
que as borboletas vivem apenas 24 horas,

será que é por isso que são livres?

a liberdade é algo possível ou é a mais doce utopia da nossa raça?
nós, nós somos livres?
ás vezes me sinto tão presa em mim mesma...

e tento reinventar novas cores para colorir a tela em branco,
e eu digo que as flores são meninas, que precisam de carinho,
e as borboletas são somente um sonho... de voar em outros caminhos...

tenho pensado muito no lado de lá!
um pouco mais acima, um pouco mais pra lá,
tenho pensado na primavera que virá!

o que será? será que está lá?
o que se procura?
existe? n'exist pas!

domingo, 2 de março de 2008

A próxima edição!


a próxima edição é as duas da manhã!

hoje é sábado e faz calor!

meu celular apita mais uma mensagem.

não tenho vontade de olhar.

queria mesmo não saber nunca mais de nada daquilo que passou.

amanhã é o que me interessa, somente o amanhã!

hoje já é final,

de noite!

de sábado!

amanhã é tempo de se encontrar, encontrar-se com si mesma,

tempo de silenciar,

de espera e de recolhimento!

algo vai mudar...

hoje é sábado, a próxima edição é as duas da manhã,

agora são uma e doze da manhã!

tem festa lá fora!

aqui dentro só resta o calor!

não fui procurar nada, fiquei, não me interesso pela rua, pelo sábado a noite e nem

mesmo pela próxima edição, ás duas da manhã!

e o que se aprende tanto em livros, que eu não consigo decifrar na vida?

o mistério de existir me consome! procuro por Deus em todos as frases!

quero encontra-lo! não vou desistir!

mas sábado a noite, com esse calor, assim não, assim não se encontra com Deus!

e Paris agora é fotografia que me olha frente a frente! e ao fundo a pirâmide envidraçada do grande museu, eu estava lá, eu estarei, eu sei!

e sentei aqui para escrever sobre scarlet johansson de peruca cor de rosa cantando pretenders em um karaoke em tokio na pelicula de la coppola...

mas isso deixa para próxima edição, ás duas da manhã!

sábado, 1 de março de 2008

antonia!

era tudo cor de rosa,
por que meninas são rosas...
vinho tinto esparramado na mesa torta de um bistrô francês
gateau du chocolat por que é preciso glicose na corrente sanguínea das bailarinas...
por que é preciso acalmar esses corações pereguinos!
e uma delas carrega Antonia em seu ventre!
Antonia que é nossa, que é gerada por todas nós!

Elas falam de poesia e política como se fosse da mesma natureza,
e não eram... eram... são...
no país de alice, maravilhas maravilha, vive um gato traicoeiro que carrega a chave de um caminho outro,
tão buscado e sonhado pela menina do vestido azul...

e a queda a carrega para outros mares,
e ela se apaixona pela queda...
e se deixa levar...
e no caminho há flores falantes
e palhaços que parecem anjos
e anjos que são demônios
e demônios que são inocentes...

ah corpo despudorado este que eu habito!
corpo de menina cor de rosa...
como a rosa...
entre os dentes...
na boca...
que chora uma dor que nem se quer se sente!

ah meninas... sempre tão valentes, se escondem em homens
grandes, enormes, com sua altura, suas barrigas, sua onipotência, veemência e doce opressão... mas o que querem essas flores... borboletear... suas asas, seus arroubos de paixão...

criar um novo mundo...
uma nova gestação,
e por que não antonia,
que hoje nos salva!
amém!

que seja doce o nosso amanhã!