quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Fátima em movimento


a vida afogava tanto aquele ser
a luz do dia lhe causava fotofobia
o amor transboradava pelos olhos
e contorcia suas viceras

onde estava a porta de saída?
onde ressoava o amor
nos olhos do encontro?

Fátima não era mais uma menina, mas ainda era moça, recatada nos seus modos, no coração romântico, nos sonhos errantes. Mas era um ser em transformação. A vida corria pelo seu corpo. Fátima estava experimentando novas sensações. Estava perdendo o medo. Medo de altura. E assim aprendendo a voar. Havia decidido se entregar a instabilidade cotidiana da vida. Mas seu corpo era frágil e sofria. Com os ventos fortes que arrebatam os seres que voam. Fátima ainda era uma menina. Que sonhava colorido e acreditava no amor infinito. Mas era dificil ser esse ser etéreo feminino. Esses dias. A pouco tempo, ouvi dizer que ela havia feito as malas e partido. Assim, assim mesmo. Partiu. Deixou tudo como estava. Cigarro pela metade. Café sem acabar. Computador ligado. Louça na pia. Chuveiro ligado. Em um roupante de fúria, desespero e decisão, Fátima abriu a porta de casa e se foi. Comprou passagens. Embarcou. Cruzou oceano. Comprou chapéu novo. Caminhou. Queria ir a Paris e foi. Perambulou pelas ruas. Virou um flanêur de chapéu e botas, sem lenço nem documento. Era preciso se encontrar com a frieza, com a verdadeira solidão. Com ela mesma. Fátima era moça bonita e muito bem tratada. Não tinha rapaz que não a desejasse, por isso não lhe faltaria amor por muito tempo. Mas ela não estava em busca dele. Queria entender o que acontece com os seres que decidem voar. Queria entender o que acontece quando botamos a vida em movimento constante sem frear. Então ela foi. Se entregou na realidade cinza e ancestral da cidade luz. Ontem recebi um cartão dessa moça que dizia assim:

Bonjour mon cherry.
Je suis `a Paris.
Je suis tres content!
Et c'est fini!

Nenhum comentário: