terça-feira, 6 de novembro de 2007

buracos vazios



texto e foto.
flávia lorenzi


2.
Buracos Vazios. Profundos abismos de nada.
Ela foi à festa e não encontrou ninguém. Tentou disfarçar.
Colocou roupa, sapatos e brilhos. A descida continuava ininterrupta.
Foi ao açougue. Sentiu o cheiro de suas entranhas.
Deparou-se com a nudez da carne exposta e seccionada.
Voltou a festa e não encontrou ninguém. Pediu água natural.
Embebedou-se de água e melancolia e sentiu cheiro de sangue.
Então foi ao banco pagar sua primeira conta.
Aflita na fila se perguntava coisas banais. Mais uma vez se deu conta da grande mentira que a envolvia. A felicidade quer ser vendida em telas coloridas. Não existe felicidade nas filas operárias de gente comum.
Ela era assim um ser tão ordinariamente comum?
Sim ela era. Comum. E isso doía. A condição ordinária da vida mortal a oprimia.
Queria tocar em outras cores, outros sons, outros odores.
Mas a vida a jogava no cinza diário de uma vida paulistana ordinária.
Seria assim por muitos dias, meses, talvez anos e nada aconteceria nas festas.
Não teria ninguém para encontrar. Toda a maquiagem iria se desfazer com as lágrimas que escorriam de seus olhos em profundo desespero.
Precisava encontrar logo uma nova mentira para se apoiar.
A realidade era dura demais para aquele ser.
Só nos sonhos era possível viver.

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