quinta-feira, 1 de novembro de 2007

alice bailarina


texto. flavia lorenzi

a menina quando ainda podia sonhar gostava de ver filmes encantados que a faziam viajar... gostava de ver alice desaniversariar... gostava de ver a bela que adormecia acordar... a menina quando ainda podia acreditar gostava muito de ouvir discos na vitrola... de dançar que nem menina grande... sem pensar em namorar... a menina quando era pequenina chorava com medo de ser abandonada... calçava sapatilhas cor de rosa... andava pelas ruas vestida de bailarina só pra ir até a padaria... a menina menininha sonhava com o palco... com os grandes saltos e piruetas... ... com a grande descoberta... que nada mais era... do que o cotidiano das horas da vida dos homens grandes e responsáveis...
a menina depois de grande não quisera parar de sonhar... se tornara bailarina... mesmo sem saber dançar... mas já tinha sapatilha que guardara dos seus tempos de florzinha... comprou então um vestido bem bonito e se fez assim... bailarina das horas infinitas... do anseio que não finda... da ferida que se alastra... daquilo que eu não sei... da dança do impossivel... da dança que se cria do abismo do encontro violento do desejo que a corrompe a cada dia...
a menina tão menininha acreditava em Deus e tinha certeza que ele a protegia, pois assim sua mãe lhe ensinara... mas a menina já crescida tinha medo da verdade... será que Deus existe mesmo? será que ele gosta de mim? menina tão menina será que ainda podia sonhar? dançar? sonhou dançou envolveu... foi aos poucos bem devagarinho, de mansinho, baixinho contando sua história... a menina queria apenas dançar... sonhar... ser menina menininha que gostava de ver alice cair no fundo mais fundo do sonho mais louco que ela já vira alguém sonhar... desaniversariar...

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